Não é tão estranho pensar que não existem traduções para o que nesse idioma deram o nome de “saudade” e nenhuma outra definição do que é sentido nesses momentos se aplicaria melhor do que sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas, e principalmente quando todas essas implicações estão ligadas a apenas um elemento, pois foram as experiências mais prazerosas que viveu, e é essa falta que lhe dói no peito desde o afastamento que acarretou seus dramas e anseios.
Nem mesmo o humor satírico da política ou a felicidade espontânea em ver filhotes que todos têm não lhe surtiu efeito nos últimos meses, nada que fizesse sorrir de fato, estando com outros é sempre diferente, muitos dos quais merecem ver seu sorriso, então com esforço se desprendia do seu espírito melancólico e forjava uma máscara de felicidade com gargalhadas, risos frouxos, sarcasmos irônicos que alegravam a todos a sua volta, menos a si, aquele vazio não era preenchido por nada, pensa agora que é esse vazio que se chama saudade.
“Como pude ser tão idiota a esse ponto?”
O pensamento que mais lhe ocorria no momento, além do “como isso foi acontecer?” e também “por quê?”. Não tinha resposta para nenhuma dessas perguntas e era isso que lhe deixava mais triste, não foi o abandono apenas, nem foi abandono, foi questão de escolha momentânea, mesmo que perdurasse para toda vida, foi momentâneo, para nunca mais, nunca mais, nunca.
Perguntava-se onde principiou seu erro, não apenas um, mas todos seus erros, que se acumularam sendo consertados com soluções momentâneas que não duravam nem o momento, não para si, seriam as frustrações, as decepções, as expectativas, os desgastes, a paciência e mesmo a falta dela, todos juntos como o suco sem açúcar que demorava a chegar.
Em suas mãos nenhuma memória, nem mesmo a que foi tão prometida e cumprida com tanto tempo de anseio que foi a tal experiência mágica, e que depois se repetiu tantas vezes, talvez fosse disso que sentisse falta, das palavras bonitas em ditas em cada momento único que era desejado por ser eterno, que duravam tardes que não tidos nem por 10 segundos, mesmo que fosse uma tristeza, estavam ali, criando memórias, que não contaram em nada no final, agora são lembranças de saudade, apenas isso, saudade.
Chegou o suco, sem açúcar, este veio separado, três colheres, não, é muito, apenas duas, ou uma e meia. Melhor não. Deixou o suco, o dinheiro e uma lágrima.
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